Conheci um homem, que caminhava só, pela vida afora.
Num viver, sem muito sentido, entre o que desejava, e a forma como buscava isso.
Olhos tristes e cansados, ombros caídos, como se o peso da vida, fosse quase insuportável.
Caminhava pesado, pois na bagagem levava, todos os momentos doloridos passados.
Lembranças as quais, não abria mão, num eterno e sofrido relembrar.
Como se as dores pelas quais passou, tivessem determinado seu futuro.
Se apegava as essas dores e questionamentos, esquecendo as alegrias vividas.
Vivia dos fracassos, mas não enxerga as vitórias, pois acreditava que não as tivesse tido.
Ele caminhava por desertos incertos, na certeza que que estava se desviando da dor, quando na realidade, as carregava em si, onde quer que fosse, as levaria junto, por escolha própria, mesmo não as desejando consigo.
A cada dia, a cada tempestade de areia, mudava a paisagem e este homem se perdia no caminho que mudava com o vento, fazendo-o, mais sofrido e sem saber que rumo tomar.
A caminhada, que deveria ser de aprendizado, era, na verdade, de duvidas e incertezas.
Dificultava tudo, se negando possibilidades, por medo e por se achar incapaz, de torna-las reais, numa total falta de crença em si e nos outros.
Tentava de toda forma, provar que tudo seria sempre igual, não via que até o deserto mudava de forma.
Vivia em guerra constante consigo mesmo, das quais só saia ferido, magoado e mais negativo ainda.
Nessa árida caminhada, em meio a culpas e desculpas, ele seguia cego.
Mal enxerga a paisagem a sua volta, não via nem os desenhos na areia.
Falava consigo próprio, o tempo todo, se castigava e se punia cruelmente, como se odiasse a si mesmo, como se fosse merecedor eterno da dor que carrega na alma.
Como se não fosse digno de nada, além das dúvidas e dos sofrimentos.
Não enxergava quem era, o quanto podia, nem o quanto valia.
O Homem do Deserto, nem sabia que era doce e meigo, carente e sonhador.
Carregava em si a beleza, de quem tem um grande coração e a imensidão dos sentimentos mais doces... mas negava isso veementemente.
Não permitia que sonhos tomassem forma, os destruía antes, ou tentava pelo menos, mas sabia que fracassava, pois eles não morriam, porque renasciam sempre, mas ele não desistia de matá-los, na completa falta de conhecimento, de que sonhos não morrem, somente adormecem.
Quando percebia que estava a se entregar, fugia para os buracos que criou para si.
Acreditava de que ali estaria seguro, e que uma hora ou outra, tudo passaria.
O medo da entrega, era maior que o medo de tentar viver.
Era neles que a amargura voltava mais e mais forte, entre porquês sem respostas, afinal, tinha escolhido para si, enxergar tudo sem cor, sem vida, sem esperança e sem crença.
Quem conheceu o Homem do Deserto, se não prestassem atenção, até acreditava, por um tempo, na dureza e frieza que ele queria demostrar, para que as pessoas se espantassem e se fossem, deixando-o ali, onde escolheu morar.
Era mais fácil criar situações para ser abandonado, e voltar a ser um coitado dolorido,
a ter que encarar e abandonar, aquilo que nada mais acrescentava.
Se ligava a relacionamentos fugazes, pois não acreditava em vínculos, mas incoerentemente, os desejava de forma intensa, o que o fazia sofrer ainda mais.
A dura luta entre o desejo e o desamor por si mesmo.
Como um personagem, que fantasiou para si e não queria despi-ser da roupa, ele seguia fantasiado de dureza e com horríveis adereços de temor.
Não acreditava em tentativas, pois as via como fracassos e não como possibilidades.
Vivia, em meio a mundos paralelos, entre sentimentos contraditórios.
Uma simples bifurcação, era motivo de caos interno.
Como bicho ferido, se acuava num canto, na espera que tudo passasse.
Ele não queria ser obrigado a fazer escolhas, afinal, elas poderiam dar errado, mas não enxergava que poderiam dar certo, no eterno viver da negatividade dos sentimentos.
Ele não queria ser obrigado a fazer escolhas, afinal, elas poderiam dar errado, mas não enxergava que poderiam dar certo, no eterno viver da negatividade dos sentimentos.
Creio que nem imaginava, que no rumo da vida, as escolhas seriam dele.
Pois na realidade, nós somos os responsáveis por nossas escolhas.
Este belo ser, nem enxergava, o quão belo era.
Era, na realidade, um menino travestido de homem, que gostava de colo e carinho.
Que necessitava de acolhimento e calor, de doces alimentos para a alma.
Que precisava de segurança e cuidados.
Que quando pego desprovido da carapaça, era, em posição fetal, que se entregava a carinhos, na quietude interna, que tanto buscava
Que tinha alma arteira, mas comungada com a tranquilidade e paz, que não se permitia ter.
Como menino órfão , que não conhecia abraço de alento e se assustava, pois julgava, que se alguém lhe oferecia tal coisa, logo a ele, que julgava nada merecer, seria por algum motivo estranho ou torpe.
Não conhecia o significado, nem a amplidão do sentimento Amar, conhecia sim, a fugacidade da paixão intensa e passageira, a qual confundia com amor.
Queria para si a verdade e a transparência, mas escolhia , um mundo onde isso não é aceito, muito menos compreendido, que dirás, vivido.
Sonhava com Oásis, mas se esquivava, escolhia o morrer de sede, a se arriscar por águas desconhecidas.
Como criança marrenta, que não dá o braço a torcer, não se entregava a vida.
Escolhia a superficialidade á profundidade, escolhia o nada á completude, optava pelas dúvidas ao invés de tentar certezas, escolhia fugir, á arriscar-se.
Uma doce criança, com medo de ter para si, a pequena palavra... Viver.
Caminhava pela areia pesada, com os chinelos na mão, pois escolhia queimar os pés.
Isso não o deixava esquecer , aquilo que teimava em relembrar sempre.. a dor.
Ajudava a se manter onde estava, mas não assumia o medo, apenas queria provar a si mesmo que doer era normal, era assim que teria que ser eternamente.
Quando os sonhos tinham alguma chance de concretização, fugia de alguma forma.
Conheci o Homem do Deserto profundamente, talvez, por pouco me ligar as suas palavras, muitas vezes duras e desconexas, intensamente questionadoras, e sem respostas, teimei em ouvir o que dizia nas entrelinhas, mas me fixando, primeiro no que os olhos me mostravam, e que mesmo nos momentos em que o olhar se tornava irônico, o medo não o abandonava.
Me fixei depois, no que enxerguei na alma do Homem-Menino.
Linda e doce alma, escondida a duras penas.
Vi o medo se transmutar em raiva, pois não desejava sentimentos, os vinculava a sofrimento e abandono.
Normal, eu creio, para quem afirmava, não ter conhecido o Amor, vinculando-o sempre as ligações, onde pouco ou nada havia de troca, de aconchego e de paz.
Nele eu vi, a estranha incoerência, entre o não querer vínculos, e ao mesmo tempo, se vincular sempre ao que nada lhe trouxe de bom.
Mas também o vi, não abrir mão, das coisas e pessoas, que poderiam lhe trazer coisas boas, mesmo que não as quisesse por perto.
A realidade que este Homem buscava, e que por menos que assumisse, era a completude, a qual dizia não acreditar.
Escolheu acreditar que tudo é passageiro, finito, incompleto e abstrato.
Que caminho ele tomou?
Não sei dizer... Há um tempo que tomou um caminho por onde eu não passo.
Talvez, caminho algum... Talvez ainda, esteja no mesmo lugar...
Quem sabe um dia, o Homem do Deserto, veja além da imensidão, da aridez que o cerca e se encante com o que pode florir..
Encantado, quem sabe, crie a coragem necessária, para tentar escolher caminhar, em terreno mais fértil.
Quem sabe um dia, ele veja que existem sim, possibilidades e faça escolhas, consciente de que elas são possíveis de darem certo..
Escolhas que sejam dele, e não se vincule mais a algo que determinou para si.
Será quando ele tomará posse de si mesmo, para ser inteiramente compreensível, deixando de lado, as dúvidas que sempre o tolheram de viver o sonho que carrega em si.
Quem sabe um dia, arriscar não cause tanto medo e ele enfim, abra o coração, esqueça a razão iludida e falsa, de que nasceu para sobreviver sofridamente, no deserto...
Quem sabe um dia sua escolha seja por tentar Viver, pois será a hora que Sobreviver, não mais lhe bastará.
Quem sabe um dia...
O homem do deserto resolva conhecer a verdade em outros cantos, em outras pessoas, mas principalmente, em si mesmo.
Que pare de se vincular ao passado e resolva encarar o presente, e visualizar um futuro.
Quem sabe um dia ele pare de fugir e escolha enfrentar, sabendo sim, que pode se ferir, mas que isso será Viver, e não mais, se matar um pouco a cada dia.
Quem sabe um dia, ele entenda que o bom da vida, é lutar pelo que se quer, é buscar o que se deseja, é não acumular medos, é sim, enfrentá-los e vence-los, um a um.
Quem sabe um dia , ele se veja tal como é, e não como se definiu.
Que renasça o belo Ser que o habita... Apaixonantemente belo!
Quem sabe um dia?
Lucienne Miguel
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